John Powell, professor de teologia na
Loyola University de Chicago, conta que no primeiro dia de aula conheceu um
jovem especial: esse jovem era Tommy.
De maneira irreverente, Tommy entrou
penteando seus longos cabelos louros, que batiam uns vinte centímetros abaixo
dos ombros.
Imediatamente John classificou Tommy
com um "e" de estranho... muito estranho.
O jovem acabou se revelando o
"ateísta de plantão" do seu curso. Constantemente, ele fazia
objeções, fazia troça ou gemia diante da possibilidade de existir um Deus-Pai
que amasse seus filhos, incondicionalmente.
Quando terminou o curso, Tommy se
aproximou para entregar seu exame final e perguntou a John, num tom
ligeiramente cínico: "o senhor acredita que eu possa encontrar Deus algum
dia?"
O professor decidiu fazer uma terapia
de choque, e respondeu enfaticamente: "não!"
Ah!, respondeu Tommy, "eu pensei
que este fosse o produto que o senhor estava tentando nos impor".
John deixou que ele desse uns cinco
passos fora da sala e gritou: "Tommy, eu não acredito que você consiga
encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza de que ele o encontrará".
Mais tarde, John veio a saber que Tommy
tinha se formado e ficou aliviado. Depois, uma notícia triste: soube que Tommy
estava com um câncer terminal.
Antes que o ex-professor fosse ao
encontro de Tommy, ele veio procurá-lo. Quando entrou no seu escritório, John
reparou que seu físico tinha sido devastado pela doença e que os cabelos longos
se foram, sob o efeito da quimioterapia.
Mas John notou também que os olhos do
jovem estavam brilhantes e a sua voz estava firme.
Tommy, tenho pensado tanto em você!,
disse o ex-professor. Ouvi dizer que você estava doente!
"Ah, é verdade, estou muito
doente. Tenho câncer em ambos os pulmões. Agora é uma questão de
semanas.", afirmou o jovem.
"Você consegue conversar a
respeito disso, Tommy?"
"Claro, o que o senhor gostaria de
saber?"
"Como é ter apenas vinte e quatro
anos e estar morrendo?"
"Acho que poderia ser pior",
disse o rapaz.
"De que maneira?", perguntou
John.
"Bem, assim como ter cinqüenta
anos e não ter noção de valores ou ideais, pensar que bebida, mulheres e
dinheiro são as coisas verdadeiramente "importantes" na
vida."
"Mas, a razão pela qual eu
realmente vim vê-lo", disse Tommy, "foi a frase que o senhor me disse
no último dia de aula".
"Eu lhe perguntei se o senhor
acreditava que eu encontraria Deus algum dia e o senhor respondeu: não!, o que
me surpreendeu. Em seguida, o senhor disse: mas ele o encontrará."
"Pensei um bocado a respeito
daquela frase, embora naquela época não pensasse muito em procurar por Deus.
Mas quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e disseram que era
um tumor maligno, encarei com mais seriedade a procura de Deus."
"E quando a doença se espalhou pelos
meus órgãos vitais, eu comecei realmente a dar murros desesperados nas portas
do paraíso. Mas Deus não apareceu."
"Um dia acordei e em vez de atirar
mais alguns apelos por cima de um muro, atrás de onde Deus poderia ou não
estar, simplesmente desisti. Decidi que de fato não estava me importando... Com
Deus, com uma vida eterna ou qualquer coisa parecida."
"Resolvi gastar o tempo que me
restava fazendo alguma coisa mais proveitosa. Lembrei-me de outra frase que o
senhor havia dito: "a tristeza mais profunda é passar pela vida sem
amar".
"Mas seria quase tão triste deixar
este mundo sem jamais ter dito às pessoas que você as ama."
"Então comecei pela pessoa mais
difícil: meu pai."
"Ele estava lendo o jornal quando
me aproximei e lhe falei: papai. . ."
- Sim, o quê? Perguntou sem baixar o
jornal.
- Papai, eu gostaria de conversar com
você.
- Então converse.
- É um assunto muito importante!
O jornal desceu, vagarosamente, alguns
centímetros...
- O que é?
- Papai, eu te amo. Só queria que você
soubesse disso...
O jornal escorregou para o chão e o meu
pai fez duas coisas que eu não me lembro de tê-lo visto fazer jamais.
"Chorou e me abraçou. Conversamos
durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manhã
seguinte."
"Foi mais fácil com a minha mãe e
com o meu irmão mais novo."
"Eu só lamentei uma coisa: ter
esperado tanto tempo."
"Então, um dia, eu me voltei e lá
estava Deus. Ele não veio ao meu encontro quando eu lhe implorei. Mas o que é
importante é que ele estava lá. O senhor estava certo. Ele me encontrou mesmo
depois de eu ter parado de procurar por Ele."
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