Ninguém se arriscava a passar por um caminho onde
uma cobra venenosa tinha feito sua moradia. Certa vez, um homem sábio passava
tranqüilamente pelo caminho tão temido, desconhecedor de que ali vivia a tal
serpente.
Subitamente, ao sentir as vibrações e o calor do
homem, a serpente levantou a cabeça, desenrolou o enorme corpo e aprontou-se
para o bote.
O homem, ao avistá-la, pronunciou uma fórmula
mágica e ela caiu aos seus pés.
A cobra, amansada pela força da magia e pelo
destemor, olhava atenta para o sábio.
- Minha amiga - perguntou ele à cobra
-, você tem a intenção de me morder?
A cobra, espantada, não abriu a boca.
- Por que você ataca as pessoas desavisadas,
fazendo mal a elas?
Eu vou lhe ensinar uma fórmula mágica poderosa, e
você vai repeti-la constantemente.
Desse modo, aprenderá a amar a Deus e aos seres de
Deus e, ao mesmo tempo, perderá a vontade de fazer mal aos outros e agredir
indiscriminadamente.
O homem murmurou a fórmula no ouvido da cobra.
Ela agradeceu, balançando a cabeça, e voltou para o
buraco que a abrigava.
Desse dia em diante, passou a levar uma vida
inocente, dócil e pura, sem sentir desejo de atacar ninguém.
Passados alguns dias, as crianças do lugarejo
perceberam a mudança de comportamento da cobra e, pensando que ela tinha
perdido o veneno, começaram a maltratá-la.
Atiravam-lhe pedras e cutucavam seu corpo roliço
com gravetos pontiagudos, machucando o pobre animal.
Gravemente ferida, a cobra não reagia e voltava
desconsoladamente para o seu abrigo. Tempos depois, o sábio voltou a passar
pelo caminho e procurou sua amiga serpente, mas não a encontrou.
As crianças disseram que ela havia morrido.
Ele sabia que Deus é poderoso e que não permitiria
que ela morresse sem ter solucionado o grande problema da vida, isto é, o
autoconhecimento pela realização do divino.
Continuou a chamar por ela. Finalmente, surgiu o
animal arrastando-se, tão magro como um esqueleto, e parou aos pés do mestre.
- Minha amiga, como você está?
- Muito bem. Vai tudo bem, graças a Deus.
- Mas por que você está tão magra e fraca?
- Como o mestre me ensinou, procuro não fazer mal a
nenhuma criatura. Alimento-me só de folhas. Por isso emagreci.
- Não, não deve ser apenas a mudança de
alimentação.
Deve haver outra razão. Pense um pouco!
- Ah, sim! Agora me lembro.
Uns meninos malvados me bateram e me feriram.
Eles não sabiam que eu não mordia mais e me
atacaram por medo.
- Minha boa amiga, eu lhe recomendei não morder.
Não a proibi de silvar para afastar os importunos e
mostrar quem você é.
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