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17 de dezembro de 2013

A Ilusão do xeque

Conta-se que, há muito tempo, uma caravana voltava de uma viagem do distante reino de Tiepur, liderada pelo Xeque Hamal Saedah. 
Era quase certo que no dia seguinte o grupo alcançaria, antes do nascer da lua, os portões de Bagdá, encerrando a longa jornada. 
No entanto, Hamal Saedah demonstrava inquietação e nervosismo. 
Quando indagado sobre isso por um de seus servos, respondeu, diante de todos os homens do grupo: 
Nossa viagem está quase terminada, e estou certo que nada de grave, de importante ou de curioso acontecerá com nossa caravana. 
Depois de ligeira pausa, acrescentou desolado: 
É por isso que pesa sobre mim uma nuvem sombria de inquietações e de desgostos. 
Afinal, duas caravanas foram enviadas pelo nosso rei ao país de Tiepur, antes da nossa. 
A primeira, chefiada por Labid, enfrentou uma estranha aventura. 
Os caravaneiros encontraram alta noite, em pleno deserto, um guerreiro fantasma. 
A segunda caravana, dirigida por Zobeir Dayer, ao deixar o oásis de Amin, viu-se envolvida por uma imensa nuvem de grilos selvagens e agressivos. 
Um dos caravaneiros pereceu nessa prodigiosa luta e dois outros ficaram feridos. 
Labid e Zobeir, logo que regressaram, foram recebidos pelo rei. 
E cada um deles pôde narrar uma aventura emocionante que arrancou aplausos e felicitações do monarca. 
O que direi eu ao rei, quando regressarmos? 
Nada terei para contar. E isso, para mim, é uma grande humilhação. 
Ao romper da madrugada, Mojalek, um dos caravaneiros, despertou os demais, aos gritos, informando que o Xeque Hamal havia sido sequestrado. 
Segundo narrava Mojalek, três bandidos haviam lutado com o Xeque e, após dominá-lo, partiram a galope, levando-o. 
Formou-se um grupo de resgate, que saiu ao encalço dos bandidos, a fim de salvá-lo. 
Quando alcançados, no entanto, os bandidos não ofereceram resistência, fugiram como sombras, tomando rumo ignorado. 
O Xeque foi libertado com apenas um ferimento na cabeça e dois outros menores junto ao nariz. 
Não querias uma aventura? - indagou Mojalek - Pois agora, terás o que contar ao rei. 
No dia seguinte, porém, já em Bagdá, quando era esperado pelo rei, o Xeque foi novamente interpelado por Mojalek. 
Este lhe entregou um papel dizendo que, se realmente pretendia contar a aventura ao rei, deveria antes lhe pagar o que devia. 
Surpreso, o Xeque leu o que havia no papel: 
Pelo pagamento para três falsos sequestradores, 300 dinares; para o aluguel de quatro cavalos, 60 dinares; pelas cordas e mordaças, 20 dinares, e para guardar absoluto sigilo, 5.000 dinares. 
Envergonhado pela farsa ridícula em que se vira envolvido, o Xeque pagou o que lhe foi exigido, porém, jamais narrou a falsa aventura a quem quer que fosse. 
Tendo em vista seu equivocado desejo de ser considerado um grande herói e viver indescritíveis aventuras, foi explorado de modo vil por um daqueles que o deveria servir. 

Não são raros aqueles que passam a vida esperando por um grande acontecimento, uma grande aventura. 
Deixam de cumprir pequenas, mas relevantes tarefas, porque se consideram destinados a feitos de maior importância. 

Assim, por orgulho, não se envolvem em trabalhos que consideram menores, e, por conseguinte, jamais estarão preparados para realizar grandes obras.

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